Já me cansa o teu pranto inesgotável
Já me cessa a dor antes notável
Já me faz crescer sem você mesmo
Já se faz o morto que eu amo.
Já me vejo rindo
E por ti chorando
Já me vejo indo
E também voltando
Já me vejo preso
Lhe quebrando a cara
Escapando ileso
Sou espécie rara.
Já me lança a sorte
Já me cansa a corte
Cortejando a vida
Que não vale nada
Sem no fim a morte.
Já me vejo em crise
Debochando louco
Sambando em partido
Que não tem governo;
E já danço em crise
Sapateio em monstros
Mas falta coragem
Mas falta dinheiro
Quase falta tempo
Para dar-me um tempo.
Sei gastar dinheiro
Sem por mão no bolso
Sei d’um forasteiro
Arrancar pescoço
Sei ter companheiro
Sem fazer esforço.
Sei ser brasileiro
Sem fazer esforço
Sei ser prisioneiro
Sem ter feito um crime.
Já me cansa a vida que não cansa mais
Já me cansa a morte que não vai jamais
Já me faço vivo sem ter alma viva
Já me faço crente sem nem crer em nada...